Ana Leticia Fialho è specializzata in diritto dell’arte presso l’università di San Paolo ed è ora dottoranda presso il Centro di Studi sulle Arti ed i Linguaggi dell’EHESS – Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales di Parigi, dove sta conducendo una ricerca sull’internazionalizzazione dell’arte contemporanea brasiliana.

Lisette Lagnado è nata nel 1961, a Kinshasa (Congo) e naturalizzata è una studiosa di semiotica e filosofia prestata all’arte. Dal 1981 ha curato e diretto importanti mostre in Brasile, tra cui anche un’edizione della Biennale del Mercosul di Porto Alegre. Scrive regolarmente per riviste intarnazionali tra cui “Parachute”, “Flash Art”, “Poliester”, “Third Text”.

Desde sua criação, em 1951, a Bienal de São Paulo assumiu uma posição-chave no processo de consolidação e internacionalização do sistema das artes no Brasil. Já nos seus primeiros anos, a instituição se tornou um espaço privilegiado de apresentação e discussão da produção artística e intelectual brasileira e internacional, figurando como referência importante na definição de valores e tendências da arte contemporânea.
Em mais de 50 anos de existência, a Bienal de São Paulo teve seus altos e baixos, mas conseguiu manter-se como uma instituição de peso. No entanto, ultimamente, é evidente a perda do seu poder simbólico. A cena internacional tem registrado uma proliferação de novíssimas bienais – algumas com propostas que têm alcançado grande visibilidade em pouco tempo de vida, a exemplo das bienais de Gwangju e Shanghai. Já a Bienal de São Paulo tem deixado de figurar no roteiro obrigatório dos agentes do mundo das artes e dos “turistas culturais”. Além disso o espaço a ela reservado na mídia internacional especializada foi significativamente reduzido.
Hoje a posição da Bienal se vê ameaçada não só pela crescente complexidade e diversidade do mapa das artes, mas pelas sucessivas crises internas e pela adoção, nas suas últimas edições, de estratégias equivocadas, tanto no âmbito administrativo quanto de curadoria . 
Críticas e crises à parte, a 26ª Bienal de São Paulo bateu recorde de público, graças à gratuidade do ingresso: 917 mil pessoas. 
Mas como nem só de números vive a arte, o atual presidente administrativo da Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, decidiu alterar significativamente o rumo que a instituição estava tomando. Depois de duas edições sob a curadoria do alemão Alfons Hug, Pires da Costa concluiu que a Bienal precisava novamente de um curador brasileiro, afastando assim o nome da francesa Catherine David, que já havia manifestado interesse em substituir Hug . 
Abrindo mão da tradicional indicação pessoal, o presidente da Bienal instaurou um processo mais democrático e transparente para a escolha do curador da 27ª edição do evento, a se realizar em 2006. Pela primeira vez a escolha do curador foi feita por uma comissão internacional independente com base na qualidade dos projetos apresentados. Ao final do processo Lisette Lagnado foi apontada como a próxima curadora da Bienal de São Paulo. Seu projeto, “Blocos sem Fronteiras” foi pensado a partir da obra de Hélio Oiticica, que será apresentada em sua dimensão artística e filosófica numa exposição especial.
Na sua forma atual, o projeto prevê sete blocos – em substituição ao tradicional formato de segmentos e núcleos. Todos os blocos terão artistas brasileiros, e serão antecipados por seminários internacionais, de acordo com as seguintes temáticas: Conglomerado em Construção, Novas Formas de Participação na Arte: Parcerias, Participação e Trocas, Porque Tantas Ruínas e Vontade de Memória, Do Cinetismo às Participações Sociais, Filmes de Artistas e Documentários, O Acre: de Território a Estado, e Marcel 30, uma homenagem ao 30 anos da morte do artista belga Marcel Broodthaers (1924-1976). 
Lisette Langado contará com a assistência de quatro co-curadores: Cristina Freire, do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, a espanhola Rosa Martinez, atual co-curadora da Bienal de Veneza, Adriano Pedrosa, co-curador do Insite 05, José Roca, da Biblioteca Luis Angel Arango de Bogotá.
Espera-se que tanto o novo modelo de seleção da curadoria, mais democrático, quanto o conteúdo do projeto vencedor possam servir para reposicionar a Bienal de São Paulo no âmbito nacional e internacional. 
No entanto, para que a Bienal de São Paulo possa retomar suas prerrogativas e voltar a ser um espaço privilegiado para a apresentação e discussão da arte e das idéias contemporâneas, um espaço de construção, revisão e subversão da história, é necessário que a qualidade do projeto artístico supreenda, se diferencie do “senso comum” que se vê habitualemente nas bienais internacionais. 
Resta agora esperar para ver como Lisette Lagnado e seu time de curadores internacionais responderão a esse desafio. 
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Na entrevista a seguir Lisette Lagando nos dá mais alguns detalhes sobre os seu projeto para a próxima Bienal de São Paulo:
Ana Letícia Fialho: O tema que escolheste para a 27ª Bienal de São Paulo – “Blocos sem Fronteiras” parte de um conceito de Hélio Oiticica. Em linhas gerais, que mudanças a idéia de “bloco” propõe à estrutura tradicional da mostra – até recentemente organizada em segmentos e núcleos? 
Lisette Lagnado: O “Bloco” não é propriamente um “conceito” para Hélio Oiticica, mas uma forma de classificar suas invenções. Assim, ele fez com “Cosmococa – programa in progress”. Cada Cosmococa (CC1, CC2, CC3 e assim por diante) era um Bloco e o todo formava um Conglomerado. Me apropriei desta terminologia (e não de “segmento” ou “núcleo”) para dar coerência. 
A mostra terá como viga mestra a questão da contrutividade. “Bloco” é o tijolo de construção; bloco é o bloco de carnaval; bloco é um grupo político. Nas três acepções do termo “bloco”, vislumbramos algo que se faz coletivamente e que tem uma noção de processo.
Estes Blocos devem ser imaginados de um material poroso. Quero dizer com isto que são como um grande mata-borrão que tem várias manchas e cujas manchas podem ter intersecções. São Blocos soltos e interligados, livres para estabelecer conexões entre si.
A.L.F.: Que formato será dado à apresentação da produção nacional e em especial dos artistas da novíssima geração?
L.L.: É cedo para falar em “formato”. O que é certo é que não haverá, por exemplo, um Bloco brasileiro. E se eu conseguir apoios, tampouco haverá a separação entre “artista convidado” e “artista da representação nacional”. Estas distinções só fazem sentido hoje em Veneza, onde a distribuição por pavilhões engessou qualquer reformulação do enfoque da mostra. Não é o caso de Bienal de São Paulo que está vivendo um momento privilegiado em termos institucionais (a começar pelo processo de seleção do curador mediante um anteprojeto analisado por especialistas). Tampouco faço distinção a priori entre artista mais “maduro” e “novíssima geração”: quero que ambos sejam apresentados por seu frescor e isto os colocará num patamar de igualdade.

Alcune immagini del Padiglione della Biennale di San Paolo